quarta-feira, 10 de março de 2010

Nas vestes do Adeus (À memória de Michel Jackson)


Que arrefeçam-se as guitarras

no funeral de tuas cordas!

Que cubram-se de agonias

as hulhas do luto! (E eu arrancarei da selva do meu pranto este cálice

de elegias, por tua morte, ó anjo de plástico do universo!


Leviatã dos placos, dilúvio e pés de rolimã.


Aparvalhado o mundo rodopiou-se boquiaberto (E houve trombadas de e-mails engasgando os milhentos clics da internet).

A lua coagulou-se de lágrimas

em seu casco de algodão.


Mas o morto, o morto – quem era o morto?

Um histrião de pernas magricelas?

Um bailarino de borracha que insandecia as turbas?

Anjo de malígnas danças? Não.

Estátua de ciclone também não.


Maior que Apolo, Élvis, Cristo?

Não e não.

Mas um vulcão de frenesi

gerado Michael Jackson.


II


Cadê teu rosto, Michael,

com pômulos de cal?

E teu vulto que valsava magnético

(tal chispa de relâmpago?)


Tu, atípico-esdrúxulo, MITO?

Deus franzino, alado e suscetível

a injeções e dores?

Rei do Pop,

mega-estrela do roque?


Bruxo em corpo de paina?

anjo-nervo de brisa, eólico;

águia-tizil dos palanques,

de sons de trons, delicado,

troar de lábios, bem-te-vi elétrico

(canção que baila, azul, feito fuga de borboleta?)


Sismo de sismo,

de abalos e

histerismos!


Não! Não! Ó criatura de piorra!

Abandonei teu funeral e corri

para os braços da poesia.

(Porque propínquo ao caixão,

eu visitei a humanidade: que vazio!)

O céu havia fugido do zimbório. E eu me

naufraguei numa torrente de lágrimas.


III


Por tua voz, Michael,

as platéias deliravam

em estúpidos sussuros.


Por tua voz, choram as guitarras,

ó dançarina lâmpada dos proscênios!

És mito, mago, fenômeno de físico magro,

- alma incandescente dos teatros.


Rutilavas como um deus e eras

frágil como chama de vela.


Querubim das multidões,

efebo cinquentão, de borracha,

espuma caída do céu, cintura de veludo,

elegíaco, gênio - infinito.


E tu jaz, menino, sempre,

na alma dos menínios!