Que arrefeçam-se as guitarras
no funeral de tuas cordas!
Que cubram-se de agonias
as hulhas do luto! (E eu arrancarei da selva do meu pranto este cálice
de elegias, por tua morte, ó anjo de plástico do universo!
Leviatã dos placos, dilúvio e pés de rolimã.
Aparvalhado o mundo rodopiou-se boquiaberto (E houve trombadas de e-mails engasgando os milhentos clics da internet).
A lua coagulou-se de lágrimas
em seu casco de algodão.
Mas o morto, o morto – quem era o morto?
Um histrião de pernas magricelas?
Um bailarino de borracha que insandecia as turbas?
Anjo de malígnas danças? Não.
Estátua de ciclone também não.
Maior que Apolo, Élvis, Cristo?
Não e não.
Mas um vulcão de frenesi
gerado Michael Jackson.
II
Cadê teu rosto, Michael,
com pômulos de cal?
E teu vulto que valsava magnético
(tal chispa de relâmpago?)
Tu, atípico-esdrúxulo, MITO?
Deus franzino, alado e suscetível
a injeções e dores?
Rei do Pop,
mega-estrela do roque?
Bruxo em corpo de paina?
anjo-nervo de brisa, eólico;
águia-tizil dos palanques,
de sons de trons, delicado,
troar de lábios, bem-te-vi elétrico
(canção que baila, azul, feito fuga de borboleta?)
Sismo de sismo,
de abalos e
histerismos!
Não! Não! Ó criatura de piorra!
Abandonei teu funeral e corri
para os braços da poesia.
(Porque propínquo ao caixão,
eu visitei a humanidade: que vazio!)
O céu havia fugido do zimbório. E eu me
naufraguei numa torrente de lágrimas.
III
Por tua voz, Michael,
as platéias deliravam
em estúpidos sussuros.
Por tua voz, choram as guitarras,
ó dançarina lâmpada dos proscênios!
És mito, mago, fenômeno de físico magro,
- alma incandescente dos teatros.
Rutilavas como um deus e eras
frágil como chama de vela.
Querubim das multidões,
efebo cinquentão, de borracha,
espuma caída do céu, cintura de veludo,
elegíaco, gênio - infinito.
E tu jaz, menino, sempre,
na alma dos menínios!